Quer prever o futuro? Leia uma distopia

Desconforto: este é o principal objetivo da literatura distópica: tirar a todos do lugar comum e incomodar com os aspectos mais cruéis e desagradáveis da sociedade. Para isso se vale de temas absolutamente reais e mistura fantasia e boas doses de ficção científica, geralmente usando como pano de fundo um cenário de totalitarismo, autoritarismo ou controle opressivo da sociedade.

George Orwell, com seu 1984, deu vida a um mundo em que prevalecia a falta de privacidade, espiões eram inseridos dentro das famílias e todas as atividades eram coletivizadas. Seus personagens ainda precisavam lidar com desaparecimentos e execuções, enquanto eram impactados por uma propaganda maciça e sofriam com a constante revisão artificial da história, o “duplipensar”.

Outro clássico distópico é Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, que se desdobra em um contexto onde seres humanos nascidos de proveta são condicionados a viver de acordo com as regras sociais do Estado, em uma fictícia “era pós-Ford”. Na época da publicação, a obra foi banida em vários países e chegou a ser incluída na lista das obras mais ameaçadas nos Estados Unidos, de acordo com a American Library Association.

As duas distopias têm em comum a abordagem de temas que permanecem atuais com o passar dos anos, além da curiosa previsão de alguns adventos tecnológicos e comportamentos sociais. A obra de Orwell, com as “teletelas”, que conceitualmente lembram em muito os smartphones, e Huxley com a clonagem e os bebês de proveta, por exemplo. Pensando nisso, será que encontramos dicas do nosso futuro em alguns romances distópicos contemporâneos? Vamos observar alguns para imaginar o que nos espera:

1- Jogos Vorazes, de Suzanne Collins

O best-seller que deu origem ao filme recordista de público se passa em uma América pós-apocalíptica. O país foi dividido por distritos, e todos os anos cada um deles é obrigado pelo governo a enviar dois adolescentes para um reality show macabro, no qual os participantes precisam matar cada um dos adversários, até que apenas um sobrevivente seja aclamado vencedor. A distopia aborda com muita propriedade a curiosidade mórbida característica da sociedade e mostra o entretenimento levado às últimas consequências, se sobrepondo, inclusive, à vida humana. Será que esse é o futuro que nos aguarda?

2- Divergente, de Veronica Roth

No romance, depois dos Estados Unidos serem assolados por guerras, em uma Chicago dividida por facções, jovens devem fazer um teste de aptidão e podem escolher para qual delas desejam se alistar. Tris Prior se descobre Divergente, um caso raro e perigoso, onde a pessoa tem tendência a várias facções. Ela precisa esconder o seu segredo e escolher se continua na Abnegação, a altruísta, ou se muda para a Audácia, a corajosa. Sua escolha pode transformar tudo.

3- Feios, de Scott Westerfeld

Após o fim da era do petróleo, o mundo passa a viver em cidades-bolhas autossustentáveis. Para evitar conflitos e preconceitos, o governo oferece uma operação plástica para todas as pessoas ao completarem 16 anos. Todas elas ficam perfeitas, esteticamente parecidas e possuem como único objetivo perseguir a própria diversão. Hedonismo e vaidade acima de tudo não parecem tão distantes assim da nossa realidade, não é mesmo?

4- Delírio, de Lauren Oliver

Nesta distopia é inventada uma cura para o amor, considerado a fonte de todos os males do mundo. Todos os cidadãos são obrigados a se submeter a uma intervenção cirúrgica para remover um componente biológico que os habilitaria ao sentimento. Como seria viver em uma realidade onde as pessoas perderam a capacidade de se envolver emocionalmente umas com as outras? Espere um pouco: já não estamos bem próximos disso?