Pacientes diagnosticados com covid-19 questionam testes realizados em Duas Barras

Alguns pacientes diagnosticados com o novo coronavírus em Duas Barras, na Região Serrana do Rio, questionam o resultado de testes rápidos feitos no município. Essas dúvidas surgiram após outros moradores, que também testaram positivo no teste rápido, terem recebido diagnóstico negativo pelo teste RT-PCR, que colhe o material do nariz e é analisado pelo Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels (Lacen-RJ), o laboratório de referência do estado.

O paciente Marlexon Gonçalves, de 30 anos, por exemplo, testou positivo para covid-19 na última quinta-feira, 2. Ele e dois colegas de trabalho passaram apenas pelo teste rápido depois que tiveram contato com uma pessoa diagnosticada com o novo coronavírus.

“A enfermeira pediu nosso CPF, fez um atestado de 14 dias e levou até o médico para ele carimbar. O secretário de Saúde pediu para a gente ficar em casa por 14 dias, sendo que nem passamos por um médico para ver se estávamos com sintomas”, afirmou o paciente.

Após saber que alguns colegas que também testaram positivo, no teste rápido, tiveram o resultado negativo pelo Lacen-RJ, ele voltou ao centro de triagem para pedir a contraprova de seu exame. Segundo Marlexon, os profissionais de saúde negaram a possibilidade de fazer o teste PCR, alegando que ele já havia passado pelo teste rápido.

Fui até a delegacia registrar um boletim, mas a mulher que me atendeu falou que isso não é crime, que deve ser critério deles e que era para eu procurar a Defensoria Pública. Acho uma falta de respeito não só comigo, mas com meus amigos. Com outras pessoas que tentaram. Eles estão escolhendo a dedo em quem fazer. Essa é a realidade.

Ronalty Paes, de 23 anos, também teve contato com um paciente que testou positivo, passou pelo teste rápido e não foi submetido ao exame PCR, analisado pelo Lacen-RJ. “Pediram para eu ficar em casa por 14 dias. E falaram que eu não posso ficar na rua, que se denunciarem eu levaria uma multa. E que só era para voltar ao hospital se eu tivesse algum sintoma respiratório”. Para ele, o município também deveria ter realizado a contraprova do exame.

Outra queixa em relação ao atendimento é sobre a forma como o diagnóstico da doença foi passada ao paciente. De acordo com Marlexon não houve nenhum tipo de privacidade, o profissional deu o resultado de seu exame na frente de todas as outras pessoas que aguardavam atendimento.

"Eu acho isso muito antiético. Acho que eles tinham que chamar a pessoa no canto e conversar, e não gritar no meio dos outros. É assim que eles fazem: 'você deu positivo, vai ter que ficar em quarentena!’"

Questionada, a prefeitura informou que trabalha para que essas situações relacionadas à privacidade do paciente sejam preservadas, mas não deu detalhes sobre o caso apontado na matéria.

Sobre o teste rápido, o secretário de Saúde de Duas Barras, Frederico de Castro Alves, diz que esse exame é indicado para pacientes assintomáticos que tiveram contato com pessoas que foram diagnosticadas com covid-19 e até mesmo para pacientes com sintomas. Já o teste PCR, é feito somente até o sétimo dia do início de sintomas ou pessoas que tiveram contato com infectados.

Já a Secretaria Estadual de Saúde informou que, seguindo protocolos do Ministério da Saúde, a recomendação é que, para maior confiabilidade dos exames, a análise PCR seja realizada até os sete primeiros dias de manifestação de sintomas suspeitos de covid. Já o teste rápido, a partir do oitavo dia.

Teste rápido

De acordo com a Anvisa, os testes rápidos positivo indicam que a pessoa teve contato recente com o vírus ou que já teve covid-19 e está se recuperando ou já se recuperou, uma vez que indicam a presença de anticorpos no organismo. Essa presença só é diagnosticada a partir do oitavo dia de contato com o vírus.

A agência diz ainda que os testes rápidos podem identificar outros tipos de coronavírus, o que é considerado o falso positivo. A Anvisa informa ainda que apenas o teste rápido não serve para diagnosticar (confirmar ou descartar) a infecção por covid-19, e que o diagnóstico deve ser feito por testes PCR.