o estado da rosa
eu me despeço de tudo quanto vejo, no momento mesmo em que vejo porque ao ver, tudo desaparece.
tudo o que é, quando vejo, deixa de ser, passa a ser outra coisa: e aquilo que vi já se perdeu no meu olhar.
eu fecho os olhos tentando guardar a lembrança da rosa, como eu vi, como se o estado da rosa fosse a rosa, sem saber que a rosa em si não é botão nem flor.
(é semente?)
só os cegos podem possuir a rosa porque só podem conhecê-la, desbravá-la. é por não poderem enxergá-la que eles a possuem, ainda que secretamente.
e quando eu te vejo, quando eu te sinto, dentro de mim, eu fecho os olhos, tento ser cega, te conhecer, te desbravar, te possuir. e de repente eu olho, não posso evitar. eu olho e me vejo dentro dos seus olhos, eu vejo e me despeço de ti. porque já te perdi no abismo de mim.
Eu digo adeus todos os dias, Eu rogo a Deus que te traga pra mim...
_*poema publicado no livro Em mãos (Oito e meio, 2015). _
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