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Naturalização do extremismo

Há de se separar o que é extremismo e o que é a polarização política

Por Conrado Werneck Pimentel
27/09/18 - 13:28

Muito tem se falado sobre a polarização na qual estamos imersos politicamente. Mas até que ponto ela é real, o que a define, e quais os aprendizados que se pode tirar dela? Já há cerca de 30 anos somos apresentados a dois modelos de desenvolvimento como nação que aparentemente se contradizem, mas, ao cabo e ao rabo, se não são complementares, utilizam, mesmo que minimamente, o que há de melhor nos dois – institucionalmente falando – e que se situam em um determinado contexto que permite (ou não) sua execução.

O plano Real de Itamar Franco permitiu a valorização da moeda e a estabilização econômica. Pode-se dizer que nos oito anos do governo do PSDB permitiu um maior controle do poder aquisitivo da sociedade e um determinado desenvolvimento econômico. Mas isso não bastava e o PT e Lula perceberam isso: trouxeram a expansão da cidadania, inserindo (e expandindo), de fato, essa mesma parcela da sociedade na sociedade do consumo – de bens e direitos. Portanto, a polarização do campo de ideias dos dois partidos sempre se deu em um embate ideológico, perfeitamente natural em qualquer democracia contemporânea, assim como na forma da execução de um cargo Executivo.

Contudo, o acirramento desta polarização tem recaído sobre a discussão do que pode ser considerado ou não como um “extremismo”, o que tem ficado mais evidente nos últimos anos. No ano passado, o Brasil bateu o recorde de assassinatos de ambientalistas no mundo; é o 2º país da América Latina em assassinatos de jornalistas por exercerem a sua profissão (7o no mundo); por ano, 9 políticos são assassinados. Estes números por si só já demonstram o quanto é perigoso exercer determinados cargos e profissões no país. Contudo, neste ano, em especial, a violência política tem tomado outros contornos – como o atentado a caravana de Lula, no Paraná, em março deste ano; o assassinato na vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, no mesmo mês; e, mais recentemente, o atentado contra o candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro. Os três casos remetem à violência política mais visceral, que é a eliminação do outro, mesmo que possam haver diferentes nuances entre si.

Muitas figuras públicas e jornalistas tem tratado a polarização dominante para o cargo da Presidência da República como se fossem os dois lados da mesma moeda. Não são. Insinuações ao questionamento das regras do jogo democrático – como fez o PSDB em 2014, ao perder nas urnas – ao propor alterações no funcionamento democrático – como propõe Paulo Guedes, economista de Jair Bolsonaro – são riscos graves ao funcionamento das instituições. Estas podem estar – como, para alguns, parece evidente – cambaleadas com processos pra lá de suspeitos; mas querer suplantá-las para que o embate de ideias seja impossibilitado é uma afronta ao Estado Democrático de Direito e junto a organizações das quais o país é signatário; é impor o autoritarismo como via de regra. A violência movida pelo ódio ao diferente, ao contraditório, tem se tornado cada vez mais comum e eles ultrapassam, em muito, as mais famosas bravatas e tem tomado as vias de fato.

A polarização pode ser vista, por alguns, por um viés positivo, quando ideias antagônicas disputam o imaginário e, idealmente, essa disputa se dá no campo ideológico, de visões de mundo, honestas com os interlocutores e com os próprios dados que baseiam as posições. Contudo, o problema da polarização reside na persistência de uma visão de que tudo é “preto no branco”, impedindo o vislumbre de alternativas. Outra coisa é o extremismo político que acomete a vida de indivíduos. A visão de que os polos do antagonismo dessas eleições são, em suma, extremistas, é naturalizar a violência física, simbólica e institucional, proferida por uns contra outros que, em toda e qualquer circunstância, deve ser combatida.


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