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Guerra na Ucrânia completa 1 mês: brasileiro com família em Nova Friburgo ajuda refugiados na Romênia

Conheça a história do jornalista Davi Carneiro, que vive na Europa há nove anos: "até agora, auxiliamos brasileiros, portugueses, um angolano e um nigeriano, e ucranianos também"

Por Bernardo Fonseca
24/03/22 - 10:24
Guerra na Ucrânia completa 1 mês: brasileiro com família em Friburgo ajuda refugiados na Romênia O baiano Davi Carneiro vive há nove anos na Romênia, no leste europeu | Foto: Arquivo pessoal

O jornalista baiano Davi Carneiro, de 37 anos, lembra com saudosismo dos natais que passava em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, durante a infância.

“Adoro demais essa cidade porque sempre estive presente e visitando os parentes, passando o Natal. Eu era sempre o sobrinho baiano que era recebido com muito carinho”, conta.

Os parentes do pai dele são de Valão do Barro, em São Sebastião do Alto, mas muitos acabaram se mudando para Nova Friburgo, onde vivem até hoje.

Porém, faz tempo que Davi não visita a cidade da serra fluminense, porque mora há nove anos em Bucareste, capital da Romênia, no leste europeu. Um país de 19 milhões de habitantes, pouco maior que o estado brasileiro de Rondônia.

Por lá, a vida tranquila foi por água abaixo exatamente um mês atrás, em 24 de fevereiro, quando teve início a invasão russa à Ucrânia. A Romênia faz fronteira com o oeste e o sul do país vizinho.

“Foi uma surpresa muito grande. A princípio, achei que o Putin não seria tão louco de invadir a Ucrânia. E caso ele invadisse, tomaria apenas a região de Donbass, que ele já tinha proclamado como independente, como fez com a Crimeia, sem afetar Kiev”, diz.

Esse também era o pensamento de muitos ucranianos antes da guerra. Agora, eles tentam sair do país em massa pelas fronteiras terrestres, indo principalmente para a Polônia, mas também para a República da Moldávia e a Romênia.

Medo de um ataque da Rússia

Além do efeito emigratório – a Romênia já recebeu 544 mil refugiados da Ucrânia, segundo a Embaixada no Brasil – e impactos econômicos, especialmente na inflação, o conflito deixou muitos romenos com medo.

Para Davi e a esposa, o receio foi ainda maior. Ele é casado com uma romena e os sogros vivem a 3 horas e meia de Bucareste, na cidade de Tulcea, a apenas 35 km da fronteira com o sul da Ucrânia.

“Existe uma ligação próxima entre romenos e ucranianos, tanto que a família da mãe da minha esposa tem ascendência ucraniana. E a gente ficou mais apreensivo ainda, pois tem amigos do meu sogro que contam terem escutado o barulho de bombas explodindo perto da fronteira”, relata.

Há exatamente um mês, a tranquilidade da vida na Romênia deu lugar ao receio com a guerraHá exatamente um mês, a tranquilidade da vida na Romênia deu lugar ao receio com a guerra | Foto: Arquivo pessoal

Davi diz que, atualmente, a vida em Bucareste está mais próxima da normalidade. A maioria dos romenos com quem tem conversado acredita que o país não será atacado pela Rússia por ser um Estado-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Mas, segundo o jornalista brasileiro, o medo ainda permanece:

É muito próximo da gente. Existe um receio de que, até mesmo por um erro, eles bombardeiem a fronteira, e isso possa ser considerado um ato de guerra pelos membros da Otan.

Por isso, o brasileiro e a esposa ficam atentos aos noticiários, e não descartam a possibilidade de vir para o Brasil por um tempo, caso seja necessário.

"Eu falo com os meus pais todos os dias, praticamente. Já tinha esse hábito antes, mas depois que essa guerra começou, estamos nos falando ainda mais para deixá-los mais tranquilos", afirma.

Mobilização para ajudar quem precisa

Por outro lado, o receio não é suficiente para paralisar quem vive tão perto do conflito. Desde o começo da guerra, os romenos se mobilizam para receber quem precisa fugir para salvar a vida.

O governo local montou uma força-tarefa para receber refugiados de mais de 50 nacionalidades, oferecendo ajuda em saúde, comida, transporte, alojamento, entre outras ações.

“De acordo com a estimativa do Ministério do Interior da Romênia, nosso país pode assegurar 400 mil habitações de moradia e assistência médica gratuita para todos os refugiados”, informou a Embaixada da Romênia ao Portal Multiplix.

Até o momento, US$ 38 milhões de dólares foram gastos para as operações de ajuda para os refugiados na Romênia e mais de 3 mil pessoas já estão com contrato de trabalho no país.

“Pelas ruas, é possível ver carros com placas da Ucrânia. A minha esposa foi passear ontem com o nosso filho, de 5 meses, e havia crianças ucranianas brincando no parque, e pessoas falando em ucraniano”, conta Davi.

Está sendo uma grande tragédia humanitária, pois eles chegam em condições muito ruins. Muitas pessoas tiveram que ir a pé até a fronteira, no frio do inverno, sem água e sem comida. Saíram de maneira rápida de casa, sem trazer muita roupa, com apenas o básico mesmo. Uma situação bem delicada.

'Frente BrazUcra' e solidariedade

Davi faz parte de um grupo na Romênia com cerca de 40 pessoas, que se voluntariam e ajudam, cada um como pode, a receber os refugiados.

Eles dão apoio no país a outro grupo chamado Frente BrazUcra, organizado por brasileiros na Europa, através do aplicativo Telegram, para auxiliar conterrâneos que precisavam deixar a Ucrânia.

“São heróis dessa história. Foram pessoas que saíram de carro, por exemplo, da Alemanha ou da Irlanda, e foram eles mesmo buscar refugiados brasileiros que estavam em situações muito difíceis”, relata.

A união dessas pessoas auxilia os emigrantes com informações e com contatos de ONG, transporte e também alojamento.

“Caso a pessoa peça, também ajudamos a pedir o status de refugiado na Romênia. Até agora, auxiliamos brasileiros, portugueses, um angolano e um nigeriano, e ucranianos também”, explica Davi.

Frente BrazUcra ajuda brasileiros e pessoas de outras nacionalidades a saírem da UcrâniaFrente BrazUcra ajuda brasileiros e pessoas de outras nacionalidades a saírem da Ucrânia | Foto: Reprodução/Redes Sociais

Segundo a estimativa oficial do Itamaraty, cerca de 220 brasileiros conseguiram sair da Ucrânia e ir para países fronteiriços, sobretudo Polônia e Romênia. Outros 48 retornaram em voo da FAB, ou foram repatriados com recursos públicos em voos comerciais.

Há ainda 25 brasileiros cadastrados que permanecem na Ucrânia, dos quais 12 declararam não ter intenção de deixar o país, de acordo com o Itamaraty, que tem um escritório de apoio na cidade de Lviv, no oeste ucraniano.

Desde o começo do conflito, Davi se dispôs a ajudar pessoas que precisavam fugir da guerraDesde o começo do conflito, Davi se dispôs a ajudar pessoas que precisavam fugir da guerra | Foto: Arquivo pessoal

“Agora, o fluxo (de saída) que continua é de ucranianos”, conta Davi. “Além da ajuda do governo, tenho visto muitos civis que estão abrindo suas casas e fazendo doações. Inclusive, uma vizinha nossa recebeu uma família de ucranianos”.

Por fim, o brasileiro que escolheu a Romênia para viver diz não acreditar que o conflito acabe rapidamente, mas torce para que a Ucrânia e a Rússia cheguem a um acordo de paz o quanto antes.

“Uma coisa que a gente notou é que a maioria dos ucranianos com quem tivemos contato até agora está muito otimista de que eles vão vencer a guerra. Eles falam que está sendo uma tragédia, mas que o país vai vencer essa batalha”, conclui.

Veja outras notícias das regiões Serrana e dos Lagos do Rio no Portal Multiplix.


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