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Entre a academia e a realidade – duas viagens pelo Brasil

Por Hamilton Werneck
10/02/20 - 09:00

Tenho, hoje, o privilégio de viver entre essas duas vertentes: academia e realidade. Enquanto na primeira estou interagindo com universidades, cursos, bibliotecas, tecnologia de informação e palestras de renomados autores e escritores nacionais e internacionais, na segunda sinto a realidade com suas agruras, suas necessidades, o desalento de mestres desiludidos e sem esperança, enquanto outros buscam uma força, não se sabe de onde, para continuar sobrevivendo como professor e buscando justificativas que sirvam de motivação para, ainda, avançar e procurar transformar.

O que pretendo neste artigo é mostrar que as duas vertentes precisam interagir mais. Os acadêmicos precisam conhecer a realidade brasileira para avaliar a importância de um determinado conteúdo científico estudado, em relação ao contexto proximal e distante, enquanto os docentes de regiões remotas precisam ter oportunidades mais concretas de viver a realidade acadêmica.

Para atingir este objetivo proposto convido-o a fazer comigo uma viagem pedagógica, uma espécie de turismo do saber para conhecermos o que existe neste Brasil e quais as soluções possíveis encontradas e concretizadas por pessoas de grande visão, idealismo e vontade política.

Nossa primeira viagem será ao norte de Goiás. Vamos sair de Brasília num pequeno avião monomotor, um “caravan”, sustentado por um motor rolls royce e viajar até Minaçu, bem junto à divisa com o estado do Tocantins.

Vamos, agora, analisar as duas faces desta cidade: uma, em 1998, quando a visitei pela primeira vez, conheci a mineração de amianto crisotila e participei de um congresso realizado num templo evangélico emprestado à Secretaria de Educação. Eram 450 educadores de níveis bem diferentes. Àquela época Minaçu tinha 250 professores lotados na Prefeitura Municipal, dos quais 120 tinham, apenas, quarta série primária, frisando a nomenclatura de décadas passadas. No mesmo salão existiam pós-graduados e educadores que não tinham, sequer, completado o ensino fundamental. Foi difícil conciliar uma fala para contexto tão diversificado.

Por vezes nos perguntamos sobre o porquê desses desfechos e encontramos o início do problema na década de setenta, quando se estruturou o mobral e seus professores voluntários. Mesmo com quarta série primária o voluntariado ensinou a ler e escrever em troca de minguado salário ajudando na complementação da renda familiar. O crime verificado e até, perdoem-me, a cretinice dos responsáveis por décadas afora, foi não ter dado a essas pessoas a oportunidade de melhorar. Não se pensava em levar a academia até eles.

Doeu-me muito ouvir uma professora dizer-me de sua formação tão exígua enquanto alguns de seus ex-alunos da rede oficial já tinham alcançado o diploma em engenharia ou direito.

À época conversei com o prefeito da cidade preocupado com uma solução plausível para este problema e sugeri a organização de um curso supletivo de primeiro grau e, depois, de segundo grau para ir solucionando o problema, aproveitando os próprios professores capacitados e residentes no município.

Minaçu, com suas peculiaridades, usinas em construção, efervescência educacional já desenvolvida pela secretaria de educação ficou ali plantada junto à serra da Mesa, ao norte do estado de Goiás. Relembro nessa época da ação da professora Jacyra Gomes, Secretária, envolvida com toda essa complexidade.

Durante os anos a separar-me deste primeiro contato, sempre perguntava sobre os problemas educacionais de Minaçu, a cidade marcada em minha mente pelos educadores leigos. Fui informado acerca do trabalho da UEG – Universidade Estadual de Goiás – agora atuando de maneira concreta na formação continuada de educadores e levando a academia aos professores mediante interiorização de cursos. Viajei por várias regiões de Goiás, estive em Porangatu e Uruaçu na região norte e presenciava o trabalho da UEG em vários encontros, congressos e seminários de educação.

No ano de 2006 fui convidado novamente para participar de um seminário em Minaçu. Enchi-me de surpresas e voei no mesmo equipamento aéreo, um “caravan”, de Brasília até aquela cidade.

Envolvido pelo espanto encontrei uma cidade sem poluição. A mineradora da serra da Mesa – SAMA - conseguiu reduzir a níveis insignificantes a poluição ambiental. A cidade está quase toda asfaltada, os lagos que abastecem as hidroelétricas criaram espaços de lazer e existem praias com areias trazidas dos rios mais próximos. Uma cidade limpa, com outras feições.

E ali estava o educador curioso por saber dos professores leigos daqueles oito anos atrás. Pois a UEG chegou até lá, fez convênios com a Prefeitura e a cidade não tem mais em seus quadros professores leigos. Muitos já fizeram o Normal Superior.

A SAMA contratou o Colégio Ávila de Goiânia que atende a uma escola para filhos dos funcionários com mais de 450 alunos e fornecimento de todo o material escolar, incluindo livros, cadernos, uniformes além dos equipamentos para o desenvolvimento de programas escolares compatíveis com uma escola de qualidade.

Tomei conhecimento de que a UEG formou mais de 30.000 educadores naquele estado, levando a academia ao interior, aos meios mais necessitados, transformando cada espaço em que sua atuação se faz presente.

E que congresso de educação! Parabéns à secretária professora Terezinha e ao professor Itamar. E que felicidade ao ver tantas transformações, prova de que é possível fazer bem feito quando o poder público usa seus recursos, desenvolve ações parceiras e se preocupa com os pontos relevantes da sociedade do conhecimento.

E, então, depois de tanta “topicidade” voltei-me para a academia e encontrei no Zaratustra de F. Nietzsche um texto inspirado para fechar nossa primeira viagem:

“Por muitos caminhos diferentes e de múltiplos modos cheguei eu à minha verdade; não por uma única escada subi até a altura onde meus olhos percorrem o mundo. E nunca gostei de perguntar por caminhos, - isso ao meu ver, sempre repugna! Preferiria perguntar e submeter à prova os próprios caminhos. Um ensaiar e perguntar foi todo o meu caminhar – e, na verdade, também tem-se que aprender a responder a tal perguntar! Este é o meu gosto: não um bom gosto, não um mau gosto, do qual já não me envergonho nem o escondo. “ Este – é o meu caminho, - onde está o vosso? Assim respondia eu aos que me perguntavam pelo caminho”. O caminho, na verdade, não existe!

A academia representada pela UEG foi ao encontro das realidades do Estado de Goiás. Minaçu foi um dos pólos. As vantagens da interação foram claras porque o caminho foi encontrado e trilhado com êxito!


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