Teresópolis é citada durante coletiva de Bolsonaro com críticas às medidas de prevenção à covid-19

O presidente da República Jair Bolsonaro voltou a criticar o isolamento domiciliar e as medidas de prevenção ao novo coronavírus, como o fechamento de empresas e suspensão de aulas, na manhã de quarta-feira, 25, durante uma coletiva em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília, transmitida ao vivo pela CNN Brasil.

Entre os pontos abordados, Bolsonaro mostrou-se preocupado com a economia e criticou parte dos governadores que vêm adotando medidas de proteção, orientadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Alguns poucos governadores, não são todos, em especial Rio e São Paulo, estão fazendo uma demagogia barata em cima disso. Para esconder outros problemas, se colocam frente à mídia como salvadores da pátria”, disse Bolsonaro.

O presidente ainda alfinetou municípios e algumas iniciativas decretadas, como o fechamento parcial das estradas. Neste caso específico, uma das pessoas que acompanhava a coletiva citou Teresópolis, que desde o último sábado está com restrições à entrada de veículos. Bolsonaro começou a falar do município, mas direcionou a fala para Búzios, que adotou medida similar.

Tem cidades que não entra carro com placa de outra cidade, olha a que ponto nós chegamos. Teresó… ‘peguei’ Búzios agora. Tá proibido entrar carro de outra placa em Búzios..

Após a coletiva, o chefe de Estado se reuniu em uma videoconferência. Na reunião com os governadores dos estados do Sudeste foram tratadas questões econômicas, segundo o governo federal.

A reportagem do Portal Multiplix entrou em contato com a Prefeitura de Teresópolis que disse, em nota, que “vai manter todas as medidas de prevenção e de isolamento social publicadas em decretos municipais, seguindo as melhores práticas e condutas que apresentam resultados positivos em outros países”.

O Executivo teresopolitano informou ainda que segue as orientações do Ministério da Saúde e os protocolos internacionais de enfrentamento do novo coronavírus.

“Pelo bem da saúde pública, estão mantidas todas as estratégias de combate à pandemia, conforme recomendado pela Organização Mundial da Saúde, a fim de achatar a curva de contágio da covid-19, com todo o suporte técnico e administrativo ao trabalho das equipes que estão na linha de frente do atendimento à população”, finalizou a prefeitura, em nota.

Pronunciamento na TV

As polêmicas envolvendo o presidente começaram na noite de terça-feira, 24, após o pronunciamento oficial de Jair Bolsonaro, em rede nacional. No discurso, o chefe do Executivo federal minimizou os efeitos do novo coronavírus, criticou a imprensa “por causar pânico à população”, também reclamou das medidas de alguns governadores de isolar os estados e fechar as unidades escolares, e pediu para a vida “voltar à normalidade”.

A fala contraria as orientações da Organização Mundial da Saúde e, inclusive, do próprio Ministério da Saúde que vêm alertando sobre o perigo do covid-19 e a importância de frear a disseminação da doença em prol da saúde da população e da falta de capacidade do sistema de saúde brasileiro.

O discurso se tornou um dos assuntos mais comentados das redes sociais e não agradou parte da população que repudiou a fala do chefe de Estado. Houve panelaços em diversos municípios do país, especialmente nas capitais.

A repercussão do pronunciamento continuou. Bolsonaro recebeu críticas da oposição, de ex-presidentes e, até mesmo, por parte de alguns aliados.

O governador do Rio, Wilson Witzel, se posicionou por meio de um vídeo nas redes sociais.

A manifestação em cadeia de rádio e televisão do presidente da República contraria as determinações da Organização Mundial da Saúde. Nós continuaremos firmes, seguindo as orientações médicas e preservando vidas. Eu peço a você: por favor, fique em casa!

Entidades de saúde também reprovaram o discurso. A Associação Brasileira de Saúde Coletiva considerou “intolerável e irresponsável”. A Sociedade Brasileira de Infectologia se mostrou preocupada com a fala. A Associação Brasileira de Climatério disse que entende a importância do impacto econômico, mas afirmou que o isolamento é uma das formas mais eficientes no combate ao covid-19.

O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse ao jornal da CBN que “a população siga as orientações do Ministério da Saúde”.

A fala polêmica atravessou fronteiras e chegou à Europa, atual epicentro da doença. A imprensa europeia destacou que o discurso de Bolsonaro é “incendiário” e “difícil de acreditar”.