30% das pessoas apontam instabilidade econômica como uma das maiores causas de ansiedade no trabalho

Quem visse o rapaz assim, tranquilo, com a camisa polo muito bem passada e calças cáqui muito bem lavadas, a mochila no braço, jamais imaginaria que umas semanas antes ele estava em pleno surto psicótico. “Andava preocupado com uns boatos de demissão na empresa, com a faculdade atrasada. Minha última lembrança foi pegar o ônibus para o trabalho. Depois disso, minha família me encontrou atordoado, vagando numa praça no interior de Minas Gerais”, contou G.B., auxiliar administrativo, de 23 anos, num dos encontros do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), onde ele havia começado a se tratar do surto associado ao estresse no trabalho.

Ele não está sozinho. A instabilidade político-econômica que tomou o país pode ser hoje a inimiga número um da saúde laborativa do brasileiro. Num país com alta incidência de distúrbios psicológicos, onde estima-se que ao menos 12% da população sofra com ansiedade patológica, inevitavelmente o ambiente corporativo também será afetado. Dados da Previdência Social indicam que casos de doença mental nos afastamentos subiram 17% em quatro anos – passou de 22,6 mil casos em 2012 para 26,5 mil casos em 2016. Alguns deles, principalmente transtornos de ansiedade e reação grave ao estresse, cresceram ainda mais, chegando a 30% nesse mesmo período.

Causas

Pesquisa realizada pela empresa de recrutamento e seleção Robert Half, de março de 2017, em 13 países apontou que o excesso de responsabilidades e a falta de reconhecimento são os principais fatores a desencadear uma crise ansiosa no trabalho. Funcionários com tarefas excessivas podem não conseguir dar conta de cumpri-las e, com isso, desenvolvem insegurança e angústia, por medo da demissão. A falta de reconhecimento, por outro lado, alimenta um sentimento frequente de desmotivação e insatisfação.

As metas inatingíveis são outro exemplo. No setor bancário, onde é comum que os profissionais trabalhem com uma meta diária, os afastamentos por causa da ansiedade superaram cinco mil casos somente em 2013 – é a segunda maior causa da licença médica, perdendo para a depressão, que afeta três a cada dez pessoas. A busca incessante por resultados palpáveis também acarreta desequilíbrio, assim como a falta de estrutura ou a precarização das ferramentas indispensáveis para o trabalho ser realizado. Uma grande parte dos trabalhadores afastados ainda relata casos recorrentes de assédio moral e perseguição dos superiores.

Sintomas

A ansiedade diminui a qualidade de vida de uma forma geral. É difícil executar tarefas com precisão e cumprir metas sem que o funcionário se sinta incapaz, desmotivado ou insatisfeito.

Nervosismo, estresse, fadiga mental, tensão, cansaço excessivo, desestímulo, apatia e depressão estão entre os indicativos principais do desgaste à saúde mental do trabalhador. Perda de apetite, distúrbios do sono e do humor e a sensação constante de “estar preso ao trabalho” são outros fatores que merecem atenção dos psicoterapeutas.

Tenho uma empresa improdutiva e meus funcionários estão ansiosos. E agora?

A ansiedade diminui a produtividade do trabalhador, o que gera prejuízos a toda equipe. Uma pessoa ansiosa é distraída, ao mesmo tempo em que está alerta a cada alteração no ambiente, tem dificuldade de concentração para desempenhar suas tarefas, além de problemas de memória. Outra consequência da ansiedade é a maior incidência de acidentes de trabalho.

Para tratar e reverter o quadro é importante que os empregadores invistam em bem-estar corporativo. Oferecer aulas de ioga e alongamento, realizar palestras e reuniões para a conscientização sobre o tema ou ainda disponibilizar serviços de massagem para os funcionários são algumas das medidas que podem ser tomadas para diminuir os casos de ansiedade na equipe. Faz bem para o funcionário, faz bem para a empresa e a economia do país agradece.